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Retalhos de Memória – 1ª edição

Realizado entre os anos de 2006 e 2009, em duas edições, o projeto contou com a participação de aproximadamente 150 idosas e teve como objetivo o resgate de histórias e memórias através do resgate de práticas artesanais com linhas e agulhas presentes no imaginário das participantes. E foi realizada com o apoio da Secretaria de Desenvolvimento Social e Solidariedade do município de Resende e a ONG Obra Social, da cidade do Rio de Janeiro, e foi realizada em 8 centros de convivência e lazer para idosos.

O trabalho teve início no mês de agosto de 2006, na cidade de Resende, com a participação inicial de 30 mulheres, oriundas de 3 centros de convivência da terceira idade de bairros distintos: Manejo, Paraíso e Cidade Alegria. Essa pesquisa foi apresentada para as participantes dos centros como uma atividade extra, uma vez que nesses espaços são oferecidos aulas de educação física, artesanato, coral, leitura e passeios etc.

As atividades propostas eram um meio facilitador de compreensão da realidade social da qual essas mulheres fizeram e fazem parte. São mulheres oriundas de camadas sociais populares, moradoras de bairros operários com habitações tipo BNH, todas aposentadas, vivendo a maioria com salário mínimo e grau de escolaridade baixo, sendo algumas analfabetas. São também vítimas da exclusão social e do processo de depressão comum nessa faixa etária, e suas inserções nesses centros são por via do desânimo, da falta do que fazer, na busca por um passatempo, incentivadas pelas colegas, médicos geriatras e propaganda institucional por parte da prefeitura.

Dentre as atividades propostas, podemos destacar desenhos, leitura de poesias e contos, confecção de bonecas de pano, cirandas e músicas; todas as atividades eram associadas a um tema especifico, por exemplo: família, infância, lar, casamento etc. Essa pesquisa teve a duração de 1 ano e ocorria semanalmente em encontros de 2 horas em cada unidade distinta. Os temas trabalhados evocavam as lembranças e as memórias afetivas, o cotidiano, a vida dura, a infância, o vestido de casamento e as técnicas artesanais tão presentes na vida dessas mulheres. A memória afetiva e coletiva que está por trás de cada lembrança e cada episódio proporcionou o reviver de fatos que foram perdidos, fato que ninguém mais quer saber, como me relatou uma aluna.

Os primeiros relatos e desenhos realizados pelas participantes nos mostraram o universo simbólico que permeia a existência dessas mulheres, imagens e histórias repletas de metáforas que simbolizam o contexto social em que estão inseridas, como a imagem da colcha de retalhos que era sempre relatada pelas mulheres como um artefato presente em suas casas e as brincadeiras com os retalhos de tecido na infância, que eram transformados em bonecas, roupinhas. A partir destes relatos, sugeri que trabalhássemos com retalhos de tecido, um material fácil de conseguirmos, uma vez que não havia recursos disponíveis para compra de materiais específicos para o trabalho das participantes; foi então que as mulheres idosas se organizaram e conseguiram retalhos de tecidos com as vizinhas, em pequenas confecções dos bairros. Nesse momento, indaguei sobre quais os trabalhos que sabiam realizar com retalhos de tecido, e, além da colcha de retalho, a técnica mais relata foi a do fuxico, que é um círculo de tecido alinhavado nas extremidades e franzido formando um módulo redondo que, quando costurado a outro, vai formando um tecido, utilizado na confecção de colchas, almofadas, bolsas etc.

A partir dessa técnica, propus as participantes que cada uma construísse um painel de medida 80 x 60 cm utilizando fuxicos e outras técnicas artesanais que sabiam e ilustrassem uma memória da vida de cada uma. No final, devido à beleza dos trabalhos realizados, resolvemos uni-los e fazer uma exposição. O trabalho unido chegou a 28 m de comprimento, um caminho de técnicas e histórias que ilustravam através de práticas domésticas com linhas e agulhas a vida das participantes.

Os trabalhos realizados foram de uma criatividade ímpar, mostrando-nos a potencialidade dessas mãos cheias de dons, transformando os fuxicos em flores, casas, animais, igrejas, flores e mapas, de acordo com a criatividade e o desejo de cada uma.

Foi muito positivo, pois me levou às lembranças de quando minha tia dava aulas de corte e costura para muitas alunas, e nas mesas, no chão, por toda a parte da sala ficavam retalhos multicoloridos. Quando as alunas iam embora, minhas irmãs e eu recolhíamos os mais bonitos para confeccionar roupas para nossas bonecas ou toalhinhas de mesa. Eram ótimos para nossas brincadeiras de casinha. (Daleni de Souza, 60 anos.)

 

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